O proprietário de um Vemag podia ser identificado pelo cheiro das roupas. É que do escapamento exalava um odor típico da queima da mistura de óleo na gasolina. Iconoclasta, o carro contrariava os valores vigentes no ambiente automotivo da época: tinha motor dois tempos e tração dianteira. Um subversivo.
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O primeiro carro nacional foi um DKW, sigla que todos “liam” como Decavê. Ou melhor, uma DKW. A perua que depois viria a ser conhecida por Vemaguet inaugurou a fábrica no bairro do Ipiranga, em São Paulo, em 1956. Dois anos depois, foi a vez de o sedã conhecer os paralelepípedos de nossas ruas. Com 27 cm a mais que o Fusca, o sedã, que mais tarde recebeu o nome Belcar, transportava com relativo conforto seis pessoas, mais bagagem. Logo ganhou um apelido: Deixavê. Suas portas dianteiras abriam ao contrário (as dobradiças ficavam na parte posterior) e exigiam habilidade das moças para que suas saias não premiassem os olhares ávidos. Mas, para tristeza da torcida, as portas passaram a abrir de modo convencional no modelo 64.
Naquele mesmo ano, a Vemag lançou o luxuoso Fissori. O motor do DKW não fazia feio em matéria de desempenho. Tinha 900 cm3 na época do lançamento e passou para 1 000 três anos depois. Com esse motor, em agosto de 1961, o DKW foi o primeiro carro testado por QUATRO RODAS, cravando 31,3 segundos no 0 a 100 km/h e batendo nos 124,8 km/h de máxima. Mais do que o espaço e o desempenho, foi o som do motor que virou marca registrada. O escapamento trombeteava um pooo, pó, pó, pó, pó… anunciando a presença de um deles nas cercanias. Sua fama de carro econômico e de fácil manutenção logo se espalhou. E o DKW reinou na praça, como se dizia: era comum os táxis da marca rodarem 24 horas por dia nas mãos de motoristas que se revezavam.
O motor tinha três pistões, três bobinas e três platinados que exigiam habilidade do mecânico para regular. Um enigmático emblema 3 = 6 procurava disseminar, com excesso de otimismo, a ideia de que com apenas três cilindros ele tinha desempenho de um motor de seis. Ao abastecer, era necessário adicionar 1 litro de óleo dois tempos para cada tanque de 40 litros. Outra singularidade do carro era a chamada roda livre, um mecanismo que, acionado, deixava as rodas girarem livremente quando se tirava o pé do acelerador, economizando combustível. Perfeito se não fossem as longas descidas, quando o carro ficava solto, exigindo mais dos freios. O sedã seguiu por dez anos sem sofrer grandes mudanças. Só em 1967, ano de sua despedida, é que a frente ganhou uma grade com frisos horizontais, no lugar do clássico oval.
O DKW Vemag 1000 da foto é um Belcar 63, com 18 000 km originais. Dirigi-lo vai além da experiência de pilotar um antigo, já que o motor dois tempos exige adaptação. Em primeiro lugar, o carrinho surpreende pela prontidão com que acelera. O motor sobe rápido de giro. Como o curso da alavanca do câmbio de quatro marchas é longo, recomenda-se dar uma acelerada nas trocas de marchas (tanto nas ascendentes como nas reduzidas) para que a rotação não caia. Ruído interno é eufemismo: ele é mesmo barulhento e, para conversar durante a viagem, só aumentando o volume da voz. Mas que graça teria um DKW silencioso? Nem todos pertenciam ao fã-clube dos Vemag. Os que pegavam um DKW pela proa durante um congestionamento não poupavam a genitora do seu proprietário: os rolos de fumaça do escape chegavam a causar enjoos em organismos mais sensíveis.
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